quarta-feira, 12 de junho de 2019

O destino e ela


Vai saber o que a vida nos reserva... Esse mistério pode ser tanto um consolo como um pesadelo...

Conheci você naquele café em que eu ia sempre que não dava tempo comer algo antes de sair de casa, porque eu estava atrasada para ir à aula. Era praxe passar ali, pedir um cappuccino e ir tomando enquanto corria com meus livros na mão para mais uma aula de francês.

Naquele dia estava mais frio que o normal. Apesar de eu não ser uma pessoa que sente tanto frio assim, resolvi levar um casaco, mas a falta de costume me fez esquecê-lo em cima da mesa do estabelecimento. Só dei falta dele quando saí da aula e notei que realmente havia esfriado. Voltei esbaforida ao café e lá estava ele, no entanto, o que eu encontrei ali foi seu olhar para minha confusão e seu sorriso, que me esquentou mais do que qualquer casaco que já tive.

Começamos a namorar naquele mesmo ano e parecia que durante toda a nossa vida havíamos construído repertórios para podermos dividir uma história juntos. Tudo fluía muito bem, sempre fomos muito parceiros. Entretanto, naquele dia em que estávamos na sua casa vimos que éramos grandes amigos, mas aparentemente nossas perspectivas de futuro haviam se desentrelaçado.

Diferentemente dos meus outros términos nós entendemos muito bem que ali havia acabado uma parte do nosso relacionamento. Em meio a beijos, lágrimas, risadas e abraços nós nos despedimos, mais uma vez fazendo acordos, como era nossa maior característica: continuaríamos sendo bons amigos, não nos afastaríamos e ficaríamos bem. Fui para casa anestesiada pelo que tinha acontecido, mas orgulhosa de termos conseguido ser companheiros até durante o fim.

No decorrer da noite tive um sonho agitado e não consegui dormir bem. Acordei bem cedo e fiquei olhando para o teto, tentando entender o que faltava para que eu conseguisse fazer minha parte no acordo... Resolvi externalizar o que tinha acontecido, falar em voz alta muitas vezes me fez cair em si, então contei às minhas amigas que havíamos terminado, elas ficaram preocupadas, não entendiam como o destino tinha feito isso com a gente e eu falei “não foi ele, fomos nós”.

Escrevi uma mensagem na minha rede social favorita, em que compartilhei uma foto de uma das nossas viagens e contei como era grata por ter dividido a vida com você por cinco anos. As mensagens foram chegando, algumas admiradas pelo fim, outras surpresas com a decisão de me despedir também na internet e havia ainda quem apostasse na nossa volta. Por mais que eu me sentisse querida por todos aqueles amigos estava querendo mesmo era saber o que você sentia, porque algo dentro de mim se questionava sobre a decisão que havíamos tomado.

Você respondeu com outro post, uma foto engraçada, de quando havíamos acabado de nos conhecer. Nela você dizia que torcia por mim e que eu podia contar com você. Apesar de ser isso que esperava, confesso que naquele momento me questionei se saberia mesmo esperar algo de ti, se saberia ressignificar sua presença na minha vida. Pela primeira vez fui atingida por um forte choro e um sentimento de arrependimento. Eu não queria te deixar ir.

Durante aqueles dias eu tive a sorte de estar cercada de amigas, só assim consegui sobreviver sem meus fones que haviam ficado na sua casa. Eu e você nos falávamos com alguma frequência, conversando amenidades ou rindo de memes que escapavam entre nossos compartilhamentos. Ter você por perto era bom, mas ao mesmo tempo era repleto de dor e saudade, então, todos os dias, em algum momento, eu ficava mal e triste e parecia que aquilo não passaria mais.

O pior momento foi quando sua felicidade começou a me incomodar. Você não era a pessoa que compartilhava a vida online e passou a fazer isso com tanta frequência que na terapia eu cheguei a cogitar se boa parte do meu tempo não era dedicado a te acompanhar virtualmente. A dor crescia e parecia que, por mais que eu tentasse lembrar de como chegamos ao “término do bem”, nada adiantava.

Sofri uma intervenção das minhas amigas. Elas não me deixavam ficar em casa aos finais de semana e haviam me obrigado a reduzir o consumo das redes sociais. Seu nome era praticamente proibido dentro do grupo e eu virei a companheira ideal para todos os passeios, pois elas não me deixavam ficar “sozinha para sofrer”. No fundo, apesar de reclamar o tempo todo de ter minha individualidade roubada, foi muito importante ter uma rede de apoio.

Foi essa rede que me encorajou a buscar minhas coisas na sua casa. Por dias eu procurei uma forma de ir lá sem que você estivesse, mas achei que poderia configurar invasão de domicílio; pensei ainda em pedir a alguém para passar lá e pegá-las, mas aquilo não combinava com nosso estilo; então resolvi jogar o jogo do destino.

Combinei comigo mesma que se na manhã seguinte eu acordasse a tempo de tomar café em casa eu iria para o curso, adiaria em mais um dia o resgate dos meus pertences. No entanto, se eu acordasse atrasada eu iria tomar cappuccino, como naquele primeiro dia, e passaria na sua casa para buscar minhas coisas. Acreditei piamente que eu conseguiria ir à aula, porque não conseguia pregar o olho de tão ansiosa. Contudo, adormeci lá pelas cinco da manhã e acordei com duas horas de atraso do início da aula. O destino havia escolhido.

Não te avisei que iria, achei que poderia ter a sorte de te pegar fora de casa. Ainda bem que toquei a campainha e não fui entrando, porque lá estava você, sem camisa, aparentemente surpreso em me ver, talvez ocupado demais para notar quantas coisas minhas haviam espalhadas pela sua casa, porque não precisei procurar muito, elas estavam no mesmo lugar em que eu as havia deixado semanas atrás.

Juntei minhas coisas meio sem jeito, lutando contra o constrangimento do silêncio enquanto um turbilhão de pensamentos ecoava na minha cabeça. Você me acompanhou até o portão, como naquele dia do fim, e aquilo foi muito embaraçoso para mim. Subi rapidamente na minha bicicleta, coloquei a mochila na cesta e me despedi. Conectei meu fone no celular e coloquei uma música, para que ela gritasse nos meus ouvidos enquanto eu me afastava com a velocidade que as lágrimas que corriam dos meus olhos permitiam.

Hoje eu sei que não importa o quão harmonioso é um final, ainda assim ele é o encerramento de algo que existiu. Tudo que prometemos um ao outro, até durante o fim continua vivo em mim, mas ainda assim, o que me faz levantar todos os dias é convencer-me que eu tenho que criar minhas próprias memórias e cumprir as promessas que faço a mim mesma. A mais recente delas é que vou ficar bem, porque ainda estou viva e não sei o que o destino me reserva, se será sorte ou revés.

Toda história tem dois lados. Esse é apenas a minha visão sobre esse nó que se desfez. Se você quer saber a versão dele clica aqui.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Aproveitando a escalada

Faço terapia há cinco anos. Às vezes nem parece que faz todo esse tempo que eu tiro uma hora, das cento e sessenta e oito que uma semana tem, para ter um olhar cuidadoso sobre mim mesma. Matematicamente falando, isso não é lá “grande coisa”, mas tem feito um diferencial considerável na minha vida.

Durante todo esse tempo eu passei por diversos altos e baixos. Não apenas porque é realmente complicado esse processo de estar em terapia, reconhecer seus gatilhos ou ainda perceber que algo lá atrás é o responsável pelo seu comportamento atual, mas também porque é assim a caminhada da nossa vida. Durante o percurso que é estar vivo, ou sobreviver, dependendo da ótica, temos momentos de escaladas seguidos de caminhadas rumo ao cume com tranquilidade, bem como descidas íngremes em direção ao “vale das bads”.

Percebi que ao longo desses anos, sempre que eu pensava sobre aquele espaço, onde eu podia aprofundar mais e mais sobre quem eu sou, entender meus sentimentos e comportamentos - por vezes confusos -, sempre surgiam demandas carregadas de sentimentos ruins, “coisas que me incomodavam” durante a semana que se seguiu.

Não que isso seja um problema, afinal aquele lugar é um espaço de livre julgamento, onde a escuta ativa possibilita que o paciente encontre na sua própria fala elementos que ajudam a lidar com a situação. No entanto, fiquei condicionada a isso, a levar àquele espaço insatisfações. Sempre que acontecia uma coisa que me chateava durante a semana, eu já guardava aquilo para contar na terapia. Quando a semana não tinha nenhum problema digno de Casos de Família eu passava o caminho da ida, no ônibus, pensando sobre coisas que me incomodavam nas minhas relações ou o quanto eu me sentia confusa ou angustiada sobre algo, mesmo que não fosse aquilo que tirasse a minha quietude naquele momento.

Esse ano, ao dar início a mais um processo de análise comportamental, percebi que durante meus percursos de “descer a ladeira” eu estava compartilhando a rota somente com o terapeuta. Não vinha falando com meus amigos sobre minhas chateações, tanto por elas serem frequentes como por sentir que ninguém entendia realmente como eu me sentia, tendo apenas meu namorado no papel de ouvinte (o problema era quando a treta era com ele, pois não me restava saída a não ser esperar mais uma semana até a consulta psicológica, chegando a lidar sozinha com alguns conflitos durante os hiatos da clínica, torcendo para não acabar no “vale das bads”, afinal seria muito mais difícil sair de lá).

Tentando alterar esse comportamento, que não vinha trazendo benefícios, mas sem buscar mudanças que desrespeitassem a forma que eu me sentia quanto a escuta dos meus amigos, meu terapeuta me propôs a seguinte atividade: escrever. No primeiro momento eu deveria planejar conversas que eu gostaria de ter com pessoas com quem eu dividi situações que me incomodaram. Para esse planejamento eu tentei ser mais empática, comigo e com a pessoa, o que era desafiador, afinal eu estava chateada.

Tracei os seguintes pontos: Como me sinto em relação ao causo; Motivos que legitimam minha chateação; Exercendo a empatia, onde eu tento ver o lado da pessoa na situação; Coisas que quero abordar na conversa e como fazer isso assertivamente e, por último, Como eu estava me sentindo antes do exercício, a fim de comparar como eu estava me sentindo antes da atividade e como me sinto ao concluí-la. Essa abordagem foi muito bacana, porque escrever libertou meus rancores e me ajudou a lidar de uma forma melhor com minha impulsividade, característica que atrasa meu filtro e prejudica minha assertividade.

Apesar do caderninho do Planejamento Psicológico, como eu denominei esse método terapêutico, eu continuei com uns incômodos pertinentes, então meu terapeuta (eu queira ser amiga dele) me sugeriu um diário. Isso rolou na mesma semana que a Jout Jout (também queria ser amiga dela) lançou um vídeo sobre ter um diário, que não necessariamente precisa ser uma atividade diária, mas que você escreve a livre demanda.

E assim nasceu meu diário. Para mim é uma experiência muito positiva, porque passei minha vida tendo agendas e gosto desses registros, mas também porque eu realmente me sinto melhor quando escrevo (chego a passar três horas escrevendo sem parar), foi por isso que criei esse blog, não é? Além disso, esse “diário-não-diário”, tira de mim a culpa de só escrever quando estou mal (não sei vocês, mas a bad é muito inspiradora para mim, os melhores textos que escrevi na vida foi quando eu estava triste ou chateada), quando eu estou feliz não sou tão produtiva nessa área. Também pesava o fato de eu estar sempre registrando meus momentos ruins, deixando parecer que minha vida era um apanhado de sofrimento. Isso acontecia porque quando havia dias bons eu estava feliz demais para registrá-los, então nada ou muito pouco sobre eles era escrito. Dessa forma, sem essa obrigação de historiar tudo, eu estava livre da culpa, que tanto me sufoca.

Passados diversos dias caminhando rumo ao vale, até encontrá-lo e ser engolida por ele, parecia até que eu tinha caído em uma cratera no vale, se e que isso era possível, e que eu era mais triste do que feliz. Nesse dia, em que eu chorei até ter dificuldade de formar frases, meu terapeuta me ajudou a refletir sobre a seguinte questão: a nossa vida é cheia de altos e baixos, de dias felizes e dias tristes. Até os dias felizes tem momentos tristes ou chatos e até mesmo dos dias tristes é possível colher algo de positivo. Nós não somos o problema, nós temos problemas, mas eles não nos definem.

Foi a partir dessa reflexão que eu me vi recomeçando os dias de escalada. Os últimos quinze dias, desde então, tem sido uma soma de dias bons. Dá até um medo, da queda a la vídeo cassetadas que o futuro prepara, mas não posso deixar de subir por conta disso, não é? Sei que é irresponsável dizer que isso foi o suficiente para que eu saísse do vale rumo ao cume. Uma série de fatores contribuiu para isso, como um olhar mais empático sobre quem me cerca; a tentativa de ser assertiva nas minhas relações, uma rede de apoio que fez eu querer enxergar o lado positivo da história e a leveza que cada dia de alegria traz.

Não vou mentir, tive dias de desânimo, dias que não acreditei na minha capacidade, dias que me sabotei... todas esses elementos que são protagonistas de dias ruins, entretanto, a cada vez que eu me sentia querendo descer essa montanha eu me obrigava a enxergar quais eram os elementos positivos que se escondiam nas pequenos cantos daquele caos. E não é que eu sempre encontrei?

Criar esse hábito, de procurar motivos para subir ao invés de descer a “montanha da vida” me possibilitou novas experiências nesses cinco anos de terapia. Semana passada foi a primeira vez que não chorei durante uma sessão e mais tarde, quando eu acordar e for para mais uma análise, eu não tenho faço ideia do que falar, porque aparentemente, eu consegui passar uma semana inteira sem ser uma pessoa triste, chateada, magoada ou conflituosa.

Com certeza esse não é o melhor texto que escrevi na vida, mas é um dos raros que escrevo estando feliz. Que essa seja o marco de uma escrita motivada pelo bem-estar e felicidade.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Seja gentil com você mesma assim como é com as pessoas próximas #100detoxEDM

No dia 28/08/17 a página feminista Empodere Duas Mulheres lançou um desafio chamado 100 Dias do Detox (e intoxicação do amor). O objetivo desse desafio é priorizar coisas que nós podemos fazer por nós mesmas, de modo que ao nos desintoxicarmos das coisas negativas nós passássemos a direcionar a si mesmas mais amor e carinho. Uma campanha destinada ao amor próprio.

Inspirada nesse desafio resolvi tentar movimentar este blog, utilizando os temas dos desafios como inspiração para a reflexão. No perfil das meninas no Instagram (@empodereduasmulheres), é possível acompanhar diariamente os posts com várias questões (atualmente já foram feitas 77 postagens do desafio). Por aqui as coisas vão acontecer ao ritmo que precisam para serem processadas, ou seja vamos nos deliciar com dor e a delícia do nosso próprio movimento reflexivo.


O primeiro dia do desafio traz a seguinte reflexão: Seja gentil com você mesma assim como você é com as pessoas próximas (1/100)



“Você já percebeu como é fácil identificar palavras ruins quando dizemos para outras pessoas, mas não prestamos atenção quando usamos palavras duras com nós mesmas? Se a sua amiga te contasse sobre um fracasso ou frustração, você seria dura com ela em um momento de sensibilidade? As palavras são muito poderosas! Quando pensar algo sobre si mesma e diga isso em voz alta - ou até mesmo escreva. Se não for bom, pare de pensar isso. Reverta para algo positivo. Se você não tem coragem de dizer coisas ruins para alguém, não diga a si mesma. Pense em coisas que te fazem bem, algo que gosta em si mesma ou que se orgulhe de ter feito hoje - que seja ter conseguido sair de casa, ou estar feliz por ter regado uma planta. Hoje eu vim andando para o trabalho e fiquei feliz com essa meta que me coloquei, porque me faz bem caminhar e olhar a paisagem escutando uma música que eu gosto. Não seja dura com você. Você tem que conviver 100% do seu dia consigo mesma, não faça disso um peso a si. Você merece carinho e cuidado - principalmente de você para si. Trate-se bem, assim como gostaria que os outros te tratassem.”
Ser gentil consigo mesma é um processo de autocuidado. Nos ensinam a ser muito críticas e severas, a não cometer erros, a não demonstrar fraqueza ao reconhece-los, a buscar sempre mais. No entanto, este “sempre mais” vem repleto de responsabilidade que muitas vezes não podemos suportar. A partir do momento em que passamos a conhecer realmente a carga que suportamos diariamente carregar, através de um processo de autoaceitação, é que podemos dar espaço a autoempatia, a grande responsável por direcionar a si mesma seu olhar generoso.

Durante muito tempo fui portadora de uma culpa enorme. Essa culpa sempre cresceu porque eu me desenvolvi em um espaço de muitas críticas. Cresci com elas ao meu redor e me moldei dentro do seguinte raciocínio: "já que tenho uma autocritica severa, eu também posso criticar o que me incomoda no outro". Este pensamento, fruto de um comportamento defensivo, se mostrou eficaz por muito tempo, além de aparentar uma ideia de justiça que me posicionava em um local protegido em meio às minhas relações.

Somente com um pouco mais de maturidade e ajuda psicológica eu pude perceber que apesar desta prática fazer “todo sentido”, ela não era a mais adequada. Reconhecer meus erros não me dá o direito de apontar as falhas do outro. E não há nada de seguro nisso, ao contrário, encontrei realmente conforto ao ser a pessoa que oferece colo, acolhimento, carinho, cuidado e atenção.

Contudo, as coisas da nossa infância são bem difíceis de se desfazer e, vez ou outra, a severidade da autocritica acontecia, mesmo que fosse para cobrar o outro para ser também amparo emocional (o que gera uma outra reflexão que em breve referenciarei aqui).

Então, para não adotar um novo problema quando você acaba de “se livrar” do antigo, a questão é ser para si mesma aquilo que espera do outro. É ter paciência consigo mesma, é acolher seus sentimentos e a forma que você lida com eles. Ah, não esqueça de ter orgulho da pessoa que você tem se tornado, pois você passou por muita coisa para chegar até aqui e só você sabe como foi lutar cada uma dessas batalhas.

E, se as coisas continuam te incomodando e você ainda tem dificuldade em lidar com tudo isso, take easy! (pegue leve), tudo tem um tempo certo para acontecer - graças a Deus -, e as coisas não estão todas sob o nosso controle e responsabilidade. Aceite quem você é, a gente só pode mudar quando paramos de tentar combater quem somos e começamos a lidar consigo mesmas.

Qual a primeira prática que podemos adotar para começarmos a aceitar quem somos, sendo gentis conosco como procuramos ser com quem temos afeto? Vamos exercer o autocuidado? É a forma como nos amamos que mostramos ao outro como eles devem nos amar.

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