Vai saber o que a vida nos reserva... Esse mistério pode ser tanto um consolo como um pesadelo...
Conheci você naquele café em que eu ia sempre que não dava tempo comer algo antes de sair de casa, porque eu estava atrasada para ir à aula. Era praxe passar ali, pedir um cappuccino e ir tomando enquanto corria com meus livros na mão para mais uma aula de francês.
Naquele dia estava mais frio que o normal. Apesar de eu não ser uma pessoa que sente tanto frio assim, resolvi levar um casaco, mas a falta de costume me fez esquecê-lo em cima da mesa do estabelecimento. Só dei falta dele quando saí da aula e notei que realmente havia esfriado. Voltei esbaforida ao café e lá estava ele, no entanto, o que eu encontrei ali foi seu olhar para minha confusão e seu sorriso, que me esquentou mais do que qualquer casaco que já tive.
Começamos a namorar naquele mesmo ano e parecia que durante toda a nossa vida havíamos construído repertórios para podermos dividir uma história juntos. Tudo fluía muito bem, sempre fomos muito parceiros. Entretanto, naquele dia em que estávamos na sua casa vimos que éramos grandes amigos, mas aparentemente nossas perspectivas de futuro haviam se desentrelaçado.
Diferentemente dos meus outros términos nós entendemos muito bem que ali havia acabado uma parte do nosso relacionamento. Em meio a beijos, lágrimas, risadas e abraços nós nos despedimos, mais uma vez fazendo acordos, como era nossa maior característica: continuaríamos sendo bons amigos, não nos afastaríamos e ficaríamos bem. Fui para casa anestesiada pelo que tinha acontecido, mas orgulhosa de termos conseguido ser companheiros até durante o fim.
No decorrer da noite tive um sonho agitado e não consegui dormir bem. Acordei bem cedo e fiquei olhando para o teto, tentando entender o que faltava para que eu conseguisse fazer minha parte no acordo... Resolvi externalizar o que tinha acontecido, falar em voz alta muitas vezes me fez cair em si, então contei às minhas amigas que havíamos terminado, elas ficaram preocupadas, não entendiam como o destino tinha feito isso com a gente e eu falei “não foi ele, fomos nós”.
Escrevi uma mensagem na minha rede social favorita, em que compartilhei uma foto de uma das nossas viagens e contei como era grata por ter dividido a vida com você por cinco anos. As mensagens foram chegando, algumas admiradas pelo fim, outras surpresas com a decisão de me despedir também na internet e havia ainda quem apostasse na nossa volta. Por mais que eu me sentisse querida por todos aqueles amigos estava querendo mesmo era saber o que você sentia, porque algo dentro de mim se questionava sobre a decisão que havíamos tomado.
Você respondeu com outro post, uma foto engraçada, de quando havíamos acabado de nos conhecer. Nela você dizia que torcia por mim e que eu podia contar com você. Apesar de ser isso que esperava, confesso que naquele momento me questionei se saberia mesmo esperar algo de ti, se saberia ressignificar sua presença na minha vida. Pela primeira vez fui atingida por um forte choro e um sentimento de arrependimento. Eu não queria te deixar ir.
Durante aqueles dias eu tive a sorte de estar cercada de amigas, só assim consegui sobreviver sem meus fones que haviam ficado na sua casa. Eu e você nos falávamos com alguma frequência, conversando amenidades ou rindo de memes que escapavam entre nossos compartilhamentos. Ter você por perto era bom, mas ao mesmo tempo era repleto de dor e saudade, então, todos os dias, em algum momento, eu ficava mal e triste e parecia que aquilo não passaria mais.
O pior momento foi quando sua felicidade começou a me incomodar. Você não era a pessoa que compartilhava a vida online e passou a fazer isso com tanta frequência que na terapia eu cheguei a cogitar se boa parte do meu tempo não era dedicado a te acompanhar virtualmente. A dor crescia e parecia que, por mais que eu tentasse lembrar de como chegamos ao “término do bem”, nada adiantava.
Sofri uma intervenção das minhas amigas. Elas não me deixavam ficar em casa aos finais de semana e haviam me obrigado a reduzir o consumo das redes sociais. Seu nome era praticamente proibido dentro do grupo e eu virei a companheira ideal para todos os passeios, pois elas não me deixavam ficar “sozinha para sofrer”. No fundo, apesar de reclamar o tempo todo de ter minha individualidade roubada, foi muito importante ter uma rede de apoio.
Foi essa rede que me encorajou a buscar minhas coisas na sua casa. Por dias eu procurei uma forma de ir lá sem que você estivesse, mas achei que poderia configurar invasão de domicílio; pensei ainda em pedir a alguém para passar lá e pegá-las, mas aquilo não combinava com nosso estilo; então resolvi jogar o jogo do destino.
Combinei comigo mesma que se na manhã seguinte eu acordasse a tempo de tomar café em casa eu iria para o curso, adiaria em mais um dia o resgate dos meus pertences. No entanto, se eu acordasse atrasada eu iria tomar cappuccino, como naquele primeiro dia, e passaria na sua casa para buscar minhas coisas. Acreditei piamente que eu conseguiria ir à aula, porque não conseguia pregar o olho de tão ansiosa. Contudo, adormeci lá pelas cinco da manhã e acordei com duas horas de atraso do início da aula. O destino havia escolhido.
Não te avisei que iria, achei que poderia ter a sorte de te pegar fora de casa. Ainda bem que toquei a campainha e não fui entrando, porque lá estava você, sem camisa, aparentemente surpreso em me ver, talvez ocupado demais para notar quantas coisas minhas haviam espalhadas pela sua casa, porque não precisei procurar muito, elas estavam no mesmo lugar em que eu as havia deixado semanas atrás.
Juntei minhas coisas meio sem jeito, lutando contra o constrangimento do silêncio enquanto um turbilhão de pensamentos ecoava na minha cabeça. Você me acompanhou até o portão, como naquele dia do fim, e aquilo foi muito embaraçoso para mim. Subi rapidamente na minha bicicleta, coloquei a mochila na cesta e me despedi. Conectei meu fone no celular e coloquei uma música, para que ela gritasse nos meus ouvidos enquanto eu me afastava com a velocidade que as lágrimas que corriam dos meus olhos permitiam.
Hoje eu sei que não importa o quão harmonioso é um final, ainda assim ele é o encerramento de algo que existiu. Tudo que prometemos um ao outro, até durante o fim continua vivo em mim, mas ainda assim, o que me faz levantar todos os dias é convencer-me que eu tenho que criar minhas próprias memórias e cumprir as promessas que faço a mim mesma. A mais recente delas é que vou ficar bem, porque ainda estou viva e não sei o que o destino me reserva, se será sorte ou revés.
Conheci você naquele café em que eu ia sempre que não dava tempo comer algo antes de sair de casa, porque eu estava atrasada para ir à aula. Era praxe passar ali, pedir um cappuccino e ir tomando enquanto corria com meus livros na mão para mais uma aula de francês.
Naquele dia estava mais frio que o normal. Apesar de eu não ser uma pessoa que sente tanto frio assim, resolvi levar um casaco, mas a falta de costume me fez esquecê-lo em cima da mesa do estabelecimento. Só dei falta dele quando saí da aula e notei que realmente havia esfriado. Voltei esbaforida ao café e lá estava ele, no entanto, o que eu encontrei ali foi seu olhar para minha confusão e seu sorriso, que me esquentou mais do que qualquer casaco que já tive.
Começamos a namorar naquele mesmo ano e parecia que durante toda a nossa vida havíamos construído repertórios para podermos dividir uma história juntos. Tudo fluía muito bem, sempre fomos muito parceiros. Entretanto, naquele dia em que estávamos na sua casa vimos que éramos grandes amigos, mas aparentemente nossas perspectivas de futuro haviam se desentrelaçado.
Diferentemente dos meus outros términos nós entendemos muito bem que ali havia acabado uma parte do nosso relacionamento. Em meio a beijos, lágrimas, risadas e abraços nós nos despedimos, mais uma vez fazendo acordos, como era nossa maior característica: continuaríamos sendo bons amigos, não nos afastaríamos e ficaríamos bem. Fui para casa anestesiada pelo que tinha acontecido, mas orgulhosa de termos conseguido ser companheiros até durante o fim.
No decorrer da noite tive um sonho agitado e não consegui dormir bem. Acordei bem cedo e fiquei olhando para o teto, tentando entender o que faltava para que eu conseguisse fazer minha parte no acordo... Resolvi externalizar o que tinha acontecido, falar em voz alta muitas vezes me fez cair em si, então contei às minhas amigas que havíamos terminado, elas ficaram preocupadas, não entendiam como o destino tinha feito isso com a gente e eu falei “não foi ele, fomos nós”.
Escrevi uma mensagem na minha rede social favorita, em que compartilhei uma foto de uma das nossas viagens e contei como era grata por ter dividido a vida com você por cinco anos. As mensagens foram chegando, algumas admiradas pelo fim, outras surpresas com a decisão de me despedir também na internet e havia ainda quem apostasse na nossa volta. Por mais que eu me sentisse querida por todos aqueles amigos estava querendo mesmo era saber o que você sentia, porque algo dentro de mim se questionava sobre a decisão que havíamos tomado.
Você respondeu com outro post, uma foto engraçada, de quando havíamos acabado de nos conhecer. Nela você dizia que torcia por mim e que eu podia contar com você. Apesar de ser isso que esperava, confesso que naquele momento me questionei se saberia mesmo esperar algo de ti, se saberia ressignificar sua presença na minha vida. Pela primeira vez fui atingida por um forte choro e um sentimento de arrependimento. Eu não queria te deixar ir.
Durante aqueles dias eu tive a sorte de estar cercada de amigas, só assim consegui sobreviver sem meus fones que haviam ficado na sua casa. Eu e você nos falávamos com alguma frequência, conversando amenidades ou rindo de memes que escapavam entre nossos compartilhamentos. Ter você por perto era bom, mas ao mesmo tempo era repleto de dor e saudade, então, todos os dias, em algum momento, eu ficava mal e triste e parecia que aquilo não passaria mais.
O pior momento foi quando sua felicidade começou a me incomodar. Você não era a pessoa que compartilhava a vida online e passou a fazer isso com tanta frequência que na terapia eu cheguei a cogitar se boa parte do meu tempo não era dedicado a te acompanhar virtualmente. A dor crescia e parecia que, por mais que eu tentasse lembrar de como chegamos ao “término do bem”, nada adiantava.
Sofri uma intervenção das minhas amigas. Elas não me deixavam ficar em casa aos finais de semana e haviam me obrigado a reduzir o consumo das redes sociais. Seu nome era praticamente proibido dentro do grupo e eu virei a companheira ideal para todos os passeios, pois elas não me deixavam ficar “sozinha para sofrer”. No fundo, apesar de reclamar o tempo todo de ter minha individualidade roubada, foi muito importante ter uma rede de apoio.
Foi essa rede que me encorajou a buscar minhas coisas na sua casa. Por dias eu procurei uma forma de ir lá sem que você estivesse, mas achei que poderia configurar invasão de domicílio; pensei ainda em pedir a alguém para passar lá e pegá-las, mas aquilo não combinava com nosso estilo; então resolvi jogar o jogo do destino.
Combinei comigo mesma que se na manhã seguinte eu acordasse a tempo de tomar café em casa eu iria para o curso, adiaria em mais um dia o resgate dos meus pertences. No entanto, se eu acordasse atrasada eu iria tomar cappuccino, como naquele primeiro dia, e passaria na sua casa para buscar minhas coisas. Acreditei piamente que eu conseguiria ir à aula, porque não conseguia pregar o olho de tão ansiosa. Contudo, adormeci lá pelas cinco da manhã e acordei com duas horas de atraso do início da aula. O destino havia escolhido.
Não te avisei que iria, achei que poderia ter a sorte de te pegar fora de casa. Ainda bem que toquei a campainha e não fui entrando, porque lá estava você, sem camisa, aparentemente surpreso em me ver, talvez ocupado demais para notar quantas coisas minhas haviam espalhadas pela sua casa, porque não precisei procurar muito, elas estavam no mesmo lugar em que eu as havia deixado semanas atrás.
Juntei minhas coisas meio sem jeito, lutando contra o constrangimento do silêncio enquanto um turbilhão de pensamentos ecoava na minha cabeça. Você me acompanhou até o portão, como naquele dia do fim, e aquilo foi muito embaraçoso para mim. Subi rapidamente na minha bicicleta, coloquei a mochila na cesta e me despedi. Conectei meu fone no celular e coloquei uma música, para que ela gritasse nos meus ouvidos enquanto eu me afastava com a velocidade que as lágrimas que corriam dos meus olhos permitiam.
Hoje eu sei que não importa o quão harmonioso é um final, ainda assim ele é o encerramento de algo que existiu. Tudo que prometemos um ao outro, até durante o fim continua vivo em mim, mas ainda assim, o que me faz levantar todos os dias é convencer-me que eu tenho que criar minhas próprias memórias e cumprir as promessas que faço a mim mesma. A mais recente delas é que vou ficar bem, porque ainda estou viva e não sei o que o destino me reserva, se será sorte ou revés.
Toda história tem dois lados. Esse é apenas a minha visão sobre esse nó que se desfez. Se você quer saber a versão dele clica aqui.