Há alguns anos-luz percebi que eu não precisaria ser Satélite de ninguém para ser querida, aceita ou respeitada, dessa forma, eu me tornei uma pessoa mais independente. Todos os corpos celestes concordam que é interessante ter Satélites, mas os misteriosos Cometas compõem um grupo particularmente instigante. Então, por ter um gosto inclinado a desviar-se da normalidade do universo e por acreditar que a luz do Sol me bastava me tornei um Cometa. A princípio a intenção foi fugir do senso comum, depois enxerguei a possibilidade de explorar as regiões do cosmo sem compromissos e escapar das órbitas pré-definidas.
Isso beneficiou muito minhas relações. Eu conseguia ser uma boa companhia sem ser grudenta, eu frustrava os astros egocêntricos, mas implantava neles a reflexão de que é natural gostarmos de ser Planetas, ter Satélites, sejam naturais ou superficiais, ao seu redor, ou ainda ter um Sol, contudo, consegui mostrar a eles que as relações são mais trocas do que só movimentos de rotação e/ou translação.
Vivi de lá para cá, pensando, analisando, sendo eu mesma e construindo relações baseadas na responsabilidade do contato. Tendo como filosofia de vida "tu se tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" e sendo consciente de que quanto mais eu cativasse, mais “presa” eu estaria àqueles astros, então evitava ao máximo colisões que entrassem para a história da astronomia, priorizando passagens rápidas, onde minha cauda iluminava o local. Não vou mentir, algumas vezes me ocorreu a vontade de ter uma rota fixa e previsível, mas os movimentos da vida, esse gigantesco sistema solar, me fizeram um Cometa e a cada ano-luz eu gostava mais de mim.
No entanto, em uma de minhas rotas descomprometidas enxerguei um Planetinha, que chamou minha atenção pela quantidade de Satélites que tinha ao seu redor. Apesar de muitos nenhum deles era tão iluminado quanto esse corpo gelado que vos fala. O Planeta se encantou por mim e vivemos o caso de amor mais lindo do Universo.
O problema é que o Planeta, sempre acostumado a ter astros ao seu redor, não conseguia entender como o único contato que teria comigo seria em forma de colisão. Nos primeiros meses, foi assustador, afinal como desejar tanto um encontro se toda vez que ele acontece deixa marcas permanentes nos dois?
O Planeta aprendeu a enxergar suas crateras, não as temer e ainda as lhe admirar. Por sua vez, entendi que mesmo que eu me desfizesse a cada contato, os choques ainda valiam a pena, já que uma parte de mim ficava no Planeta e, dessa forma, nossos corpos eram alterados a cada encontro.
No entanto, notei que o Planeta começou a fazer um movimento em torno de um Sol, tal deslocamento ainda desconhecido (ou despercebido) por mim. Senti um medo tremendo! Medo das nossas rotas não se cruzarem, medo dessa locomoção não permitir o contato, medo de ser só mais um astro que vaga enquanto as estações do Planeta estão se definindo...
O Planeta me assegurou que isso era normal, acontecia anualmente com mais frequência do que eu poderia imaginar, garantiu ainda que isso não iria afetar em nada as nossas colisões. Mesmo assim eu fiquei receosa, principalmente ao perceber que não era do meu feitio sentir falta, especialmente de um simples Planeta, afinal, como um Cometa, eu vinha percorrendo todos os espaços possíveis na galáxia.
Foi aí que me ocorreu o seguinte pensamento: “quanto mais em volta deste Planeta eu transitar, mais me tornarei um Satélite, daqueles sem graça, que existiam aos milhões sem uma iluminação descente ao redor do Planeta”. Diante disso, eu resolvi andar. Passei a procurar poeira lunar, conheci os anéis de Saturno, senti o calor do Sol por conta própria e explorei o espaço sideral.
Lá no lugar dele o Planeta sentia a falta daquele ser viajante e não entendia o porquê de as trajetórias percorridas terem se tornado tão longas, se o Cometa sabia que ele continuava o mesmo astro, no mesmo lugar.
Em uma das minhas viagens resolvi ver como as estações estavam ocorrendo por aquele Planeta tão querido. Ao entrar em sua órbita avistei um Planeta frio e sozinho. Chocando-me com ele eu perguntei: "Qual o problema? Onde estão suas voltas em torno do Sol?!”. O Planeta me explicou: "Não há Sol que esquente da mesma forma que a sua cauda faz ao cruzar a atmosfera.”.
Não há nada mais carente do que um Cometa que precisa se chocar por aí e não há nada mais emocionante para um Planeta do que um acontecimento que altere seu status quo. O encontro dos dois é uma coisa mágica, todas pessoas do mundo param para ver.
Isso beneficiou muito minhas relações. Eu conseguia ser uma boa companhia sem ser grudenta, eu frustrava os astros egocêntricos, mas implantava neles a reflexão de que é natural gostarmos de ser Planetas, ter Satélites, sejam naturais ou superficiais, ao seu redor, ou ainda ter um Sol, contudo, consegui mostrar a eles que as relações são mais trocas do que só movimentos de rotação e/ou translação.
Vivi de lá para cá, pensando, analisando, sendo eu mesma e construindo relações baseadas na responsabilidade do contato. Tendo como filosofia de vida "tu se tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" e sendo consciente de que quanto mais eu cativasse, mais “presa” eu estaria àqueles astros, então evitava ao máximo colisões que entrassem para a história da astronomia, priorizando passagens rápidas, onde minha cauda iluminava o local. Não vou mentir, algumas vezes me ocorreu a vontade de ter uma rota fixa e previsível, mas os movimentos da vida, esse gigantesco sistema solar, me fizeram um Cometa e a cada ano-luz eu gostava mais de mim.
No entanto, em uma de minhas rotas descomprometidas enxerguei um Planetinha, que chamou minha atenção pela quantidade de Satélites que tinha ao seu redor. Apesar de muitos nenhum deles era tão iluminado quanto esse corpo gelado que vos fala. O Planeta se encantou por mim e vivemos o caso de amor mais lindo do Universo.
O problema é que o Planeta, sempre acostumado a ter astros ao seu redor, não conseguia entender como o único contato que teria comigo seria em forma de colisão. Nos primeiros meses, foi assustador, afinal como desejar tanto um encontro se toda vez que ele acontece deixa marcas permanentes nos dois?
O Planeta aprendeu a enxergar suas crateras, não as temer e ainda as lhe admirar. Por sua vez, entendi que mesmo que eu me desfizesse a cada contato, os choques ainda valiam a pena, já que uma parte de mim ficava no Planeta e, dessa forma, nossos corpos eram alterados a cada encontro.
No entanto, notei que o Planeta começou a fazer um movimento em torno de um Sol, tal deslocamento ainda desconhecido (ou despercebido) por mim. Senti um medo tremendo! Medo das nossas rotas não se cruzarem, medo dessa locomoção não permitir o contato, medo de ser só mais um astro que vaga enquanto as estações do Planeta estão se definindo...
O Planeta me assegurou que isso era normal, acontecia anualmente com mais frequência do que eu poderia imaginar, garantiu ainda que isso não iria afetar em nada as nossas colisões. Mesmo assim eu fiquei receosa, principalmente ao perceber que não era do meu feitio sentir falta, especialmente de um simples Planeta, afinal, como um Cometa, eu vinha percorrendo todos os espaços possíveis na galáxia.
Foi aí que me ocorreu o seguinte pensamento: “quanto mais em volta deste Planeta eu transitar, mais me tornarei um Satélite, daqueles sem graça, que existiam aos milhões sem uma iluminação descente ao redor do Planeta”. Diante disso, eu resolvi andar. Passei a procurar poeira lunar, conheci os anéis de Saturno, senti o calor do Sol por conta própria e explorei o espaço sideral.
Lá no lugar dele o Planeta sentia a falta daquele ser viajante e não entendia o porquê de as trajetórias percorridas terem se tornado tão longas, se o Cometa sabia que ele continuava o mesmo astro, no mesmo lugar.
Em uma das minhas viagens resolvi ver como as estações estavam ocorrendo por aquele Planeta tão querido. Ao entrar em sua órbita avistei um Planeta frio e sozinho. Chocando-me com ele eu perguntei: "Qual o problema? Onde estão suas voltas em torno do Sol?!”. O Planeta me explicou: "Não há Sol que esquente da mesma forma que a sua cauda faz ao cruzar a atmosfera.”.
Não há nada mais carente do que um Cometa que precisa se chocar por aí e não há nada mais emocionante para um Planeta do que um acontecimento que altere seu status quo. O encontro dos dois é uma coisa mágica, todas pessoas do mundo param para ver.
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