quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

ainda Julia

parte cinco.

Julia percebeu que até aquele momentos estava tudo bem entre eles, as coisas só começaram a mudar a partir do dia em que, sem querer (?), eles se beijaram, próximo ao dia em que Gabi veio passear na cidade. Depois daquilo Levi sumiu por dois meses e mudou. Ulisses, Tereza e Mateus (seus colegas de intervalo) estavam na mesa de sempre, mas Levi não. Samuel disse que talvez ele tivesse brigado com Gabi, porque ele andava calado, não conversava, só respondia às perguntas.
Ela não teve coragem de ligar pra ele, não sabia o porquê da misantropia, vai que tudo era culpa daquele beijo e ela tinha ferido ainda mais o relacionamento não tão estruturado deles...
Durante os dois meses que se passaram distante de Levi, Julia não teve muito que fazer. Vez por outra se sentava à mesa com os amigos dele. Sem querer, um clima foi se formando com Mateus, Ulisses e Tereza namoravam há quase um ano e, como Levi havia lhe dito, Mateus olhava diferente pra ela. Eles ficaram por algum tempo, por quase dois ou três meses ela suspeitava, não tinha tanta certeza.
Foi só no aniversário do Arnaldo que encontrou Levi e pôde conversar rapidamente com ele. Ele estava feliz novamente, estava animado. Disse que andou estudando pro vestibular do fim do ano e que estava com saudades de escutar boas músicas com ela. 
Aquela época foi de muita felicidade para ela, Mateus era um cara incrível, carinhoso, bonito, falante, inteligente. E estar ao lado dele foi muito bom, enquanto durou. O relacionamento foi se desgastando devido à pressão do vestibular. Mateus ia tentar ITA, o vestibular mais difícil do país, e não tinha tempo pra ficar de namorico com a garota do segundo ano... Foi isso que Julia pôs na cabeça, pra não sofrer com a separação, por isso o rompimento não deixou marcas ruins nela, pelo contrário. Com o distanciamento de Mateus, Levi se sentiu mais a vontade para voltar a frequentar sua casa à tarde. Ele não queria que o amigo pudesse ficar chateado de alguma maneira com a amizade deles... 
Julia lembrou que Levi também havia passado por novas experiências, naquele período. Samuel estava lhe levando às festas movidas por "ultimas paradas internacionais", que as meninas mais bonitas da cidade frequentavam, nessa época Levi arrumou muitas “amigas”, o que não atrapalhou nem um pouco o ritmo dos seus estudos ou o tempo em que passavam juntos. Era engraçado vê-lo mais parecido com o Samuel, ao mesmo tempo que não conseguia perder aquela autenticidade que só ele possuía. Parecia que o tempo que passou pra se recuperar do "impacto" causado por Gabi tornou Levi mais confiante em si. 
O ano que chegou trouxe novidades, Levi, assim como Mateus e Ulisses tinham sido aprovados. Mateus teve que viajar e Ulisses e Levi iriam cursar faculdade ali mesmo, na cidade. Mais uma vez, Julia achava que Levi estava diferente e ela passou a não se interessar tanto por suas novidades, pensando bem, ela acho que ela estava diferente, também, estava preocupada com o seu vestibular, tinha medo de assim como Tereza, não conseguir passar. E foi isso, essa "diferença", e talvez até mesmo a indiferença, que atrapalhou muito o relacionamento deles.
Foi um ano muito difícil, cada um passou de um lado e só depois desse ano de tensão e a aprovação no vestibular, que ela relaxou. Passou a frequentar novamente as festinhas da galera, e começou a perceber que não encontrava mais Levi em nenhuma delas, assim a saudade bateu de forma desesperadora. Tudo que ela queria era ter Levi de volta, só pra ela, como nos tempos de 2º ano. Eles voltariam a dividir o mesmo universo, agora universitário, e poderiam ficar juntos novamente. Ela tinha muito o que dividir com ele e queria muito que ele a quisesse de volta, já que na época da neurose do vestibular ela não tinha sido muito agradável com ele, tanto que por um momento ele perdeu a paciência e se afastou. 
Por um acaso, encontrou com Levi, e não resistiu. Assim que o viu, gritou seu nome e o abraçou. Ele parecia desconcertado em tê-la nos braços, mas ela percebeu como o coração dele também batia forte, Ali, nos batimentos dele ela confortou a cabeça. Naquela madrugada, eles conversaram muito. Ela percebeu que acontecia alguma coisa diferente, quando estava com ele, porque além de pensar nele até quando não queria, quando estava ao seu lado sentia contrações ventriculares prematuras, como disse alguém em um filme que viu.
Isso tudo era o mais estranho. Desde que Mateus foi embora, sempre que se imaginava com alguém, Julia pensava em Levi. Foi ali, naquele instante, que ela percebeu que não queria ser só amiga dele, por isso eles viviam se deixando e se buscando, por isso que ela caçava por ele em todas as festinhas que ia, e por vários outros motivos que vinham como turbilham na sua cabeça. Então, no calor da emoção, Julia agiu de forma aventureira, ousada e decidida, se aproximou de Levi e o beijou. Para ela, aquele tinha sido melhor amanhecer de sua vida, ao som de 3x4 pôde ficar nos braços do seu grande amigo, por quem foi apaixonada desde o primeiro momento, mas nunca assumiu, nem pra si. 
Desde aquele sábado maravilhoso, ela não conseguia não pensar em Levi, não conseguia dormir sem sonhar com ele nem conseguia ouvir qualquer uma das “músicas deles” sem ter que controlar de forma extremamente forte a vontade de ligar para ele. Por um motivo banal, achou que não deveria ligar no domingo, para não parecer tão carente ou grudenta. Não ligou na segunda por que teve um dia cheio e à noite ele estaria no francês, então, sem aguentar mais seus pensamentos ensurdecedores ligou na terça, antes do intervalo. 
E quem atendeu foi Sofia. Julia estava confusa, atordoada. Como ela atendeu o celular dele se eram 08h30min? Será que ela dormiu na casa dele? Será que ele contou a ela sobre sábado? Esse telefonema fez com que Julia pensasse milhares de hipóteses, tanto positivas, como o caso dele querer vê-la logo e contar tudo, para não iludi-la, quanto negativas, como no caso dele ter se arrependido e ter ido vê-la logo cedo. Julia se sentiu perdida. No momento, só queria que Levi ligasse para ela, mas ele não ligou até agora  e ela  estava  ali, deitada sobre os livros, perdida e sozinha no meio de tantas histórias que não eram a dela.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Julia


Levi tinha prova de Matemática Aplicada a Engenharia Civil às 9:30 e já havia acordado tarde e perdido a aula de Materiais de Construção Civil I, estava no banho quando seu celular tocou. 
- Levi, seu celular tá tocando. 
- Quem é? – Gritou Levi do banheiro. 
- Não sei, é de um número que não está na sua agenda. 
- Atende então. 
E Sofia atendeu. 
- Alô? 
- Eu queria falar com o Levi... 
- Ele tá no banho, quer deixar recado? 
- Dona Rita, pede pra ele ligar pra Julia assim que sair do banho, tá? 
- Não, não é a mãe dele, é a Sofia, mas eu peço sim. 
- Ah, Sofia... desculpa. 
- De boa Julia, até logo. 
Julia passou o dia com aquele diálogo na cabeça. Devolveu o celular da colega e sentiu como se a aula de Introdução às Relações Internacionais tivesse passado em um piscar de olhos, ela nem escutou o que a professora falou sobre os sujeitos das relações internacionais. Assim que a aula acabou resolveu ir pra biblioteca. Lá, baixou a cabeça e resolveu fazer uma rápida retrospectiva do seu relacionamento com Levi.
Recordou-se da chegada deles à cidade, do frisson que eles causaram, de como Samuel despertava o interesse das meninas do colégio e de como, por um acaso do destino, eles ficaram amigos.
Lembrou-se que conheceu Levi através das caronas que Samuel fazia questão de oferece a ela, a partir do momento que Levi ganhou o carro e passou a ir com ele para o cursinho.
Veio à sua memória as características que notou em Levi, logo de princípio, diferentemente de Samuel, que tinha a capacidade de agrupar pessoas ao seu redor, Levi não era muito adepto a grupos, ela percebeu que ele sentava na mesma mesa todo intervalo e com as mesmas pessoas, dois meninos e uma menina. Julia gostava de observar Levi, talvez porque ele fosse mais reservado, mas ao mesmo tempo leve, sério ao mesmo tempo em que transparecia bom humor. Julia gostava disso, dessa dualidade. 
Alvitrou em seguida a primeira vez que conversaram,  foi no carro, depois de quase um mês que ela voltava de carona com os irmãos. Levi havia ligado o rádio e estava tocando Los Hermanos, então Julia falou sem pensar: 
- Sério que você gosta deles? O povo daqui só conhece Anna Julia! 
- Gosto sim. Levi respondeu olhando pelo retrovisor. Já ouviu o CD novo? 
- E eles têm CD novo? 
- Não. - Sorriu desconcertado. - Eu quis dizer o ultimo... 
- Ah sim, ouvi sim. Eu tenho todos. 
- Sério? Eu não tenho o primeiro, não consegui comprar, aquele que tem Primavera... 
- Eu te empresto e você copia. 
- Ah beleza então! 
- Nossa, eu pensei que só o Levi sofria escutando isso hoje em dia... - Interrompeu Samuel.
- Cala a boca Samuel! - Levi falou, já como um bordão. 
- Hahaha, que nada, eu adoro. Escuto sempre. 
- Liga não Julia, o Samuel só curte o que rola nas paradas internacionais. 
- Pelo menos são artistas que não acabaram... 
- Epa Samuel, não pode falar mal dos Los Hermanos viu?! - Brincou Julia. 
- Hahaha, olha que eu deixo de te dar carona viu?! 
- Nem é você que dirige! Não se preocupa Julia, eu te levo! 
Desse dia em diante, eles se falaram todos os dias. Ela levou o CD pra ele copiar e depois eles foram descobrindo outras coisas em comum. A amizade deles foi ficando a cada dia mais forte e no seu aniversário Levi deu à ela o DVD dos Los Hermanos na Fundição Progresso.
Foi desde então que passaram a se encontrar à tarde. Primeiro para ver o DVD, várias e várias vezes. Tentando entender cada música, discutindo interpretações e pesquisando contextos. Com o tempo e a intimidade, foram sendo cúmplices e foram aprendendo a conviver muito bem um com outro. 
Até aí, só coisa boa...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sofia e seu amor livre


Só foi o carro deixar a calçada de Julia que Samuel bombardeou Levi com perguntas.
- Eu sabia que não era só amizade essa coisa com a Julia!
- Era só amizade sim, Samuel.
- Então quer dizer que hoje foi a primeira vez que vocês ficaram?
- Foi sim.
- E todas as tardes que você passava na casa dela?
- O que é que tem?
- Nunca rolou nada?
-Não Samuel! Por que tu insiste nisso?
- Caraca Levi, eu sabia que tu era mole, mas não assim...! Todo mundo sabe que a Julia é louca por ti!
- Nada haver, nós éramos amigos na época do colégio.
- E agora?
- Agora não sei. Deixa que o amanhã cuida do amanhã.
- Quem diz isso é a Sofia...
- É...

Sofia... desde que deixou Julia em casa metade dos seus pensamentos eram ocupados por ela, quer dizer, ela ocupava metade dos seus pensamentos desde que a conheceu. Ele estava sempre preocupado em amá-la e não entendê-la, como sugeriu Vinícius de Moraes.
- Levi! Eu to falando contigo!
- O que é?
- Quer que eu dirija o carro? Tu não presta atenção nem em mim, imagina no trânsito...
- Claro que não, você bebeu. Eu vou prestar atenção, fala aí...
- Você vai contar pra Sofia?
- Vou, lógico.
- Por quê? Você se arrependeu?
- Acho que não...
- Então, vai contar pra quê? Eu prometo que não falo...
- Não se trata disso Samuel.
Interrompeu Levi. Eu estou com ela, então devo dizer a verdade à ela.
- Mas você nem colocou namorando com ela no facebook...
- Grande merda um status de facebook. Não coloquei porque não estou...
- Você não tá namorando com a Sofia?
- Não. Ela não quer namorar comigo...
- Aposto que a Julia quer! Ela é afim de você desde a época do colégio...
- Ah, cala a boca Samuel!

Quando Sofia chegou Levi quis conversar com ela, depois do francês. Na segunda.
- On as besoin de parler. A gente precisa conversar.
- Seulement dans mon lit. Tu me manque tellement. Só se for na minha cama. Tô morrendo de saudade.
- Sérieusement Sofia! Il faut qu'on parle. Serio Sofia, quero falar contigo.
- J'ai déjà dit, seulement dans mon lit! couche avec moi? Já disse, só se for na minha cama! Dorme comigo?
- Não sei se você vai querer dormir comigo...
-Nem eu. Dormir está em segundo plano... Ela sorriu, ele ficou envergonhado, o que não acontecia com frequência.
Levi contou a Sofia sobre Julia, desde o início, quando veio morar na cidade, das tardes no tapete, do beijo na época que Gabi veio visitá-lo, da tensão dela ano passado e do sábado. Sofia escutou tudo calada. E perguntou quando ele se calou:
- E agora?
- Não sei.
- Como assim, não sabe?
-Não sei, você quer “romper” comigo?
- Eu não! Você quer “romper” comigo?
- Claro que não!
- Então pronto, vem pra cá que eu to morrendo de saudades do teu cheiro...
- Espera um pouco Sofia, você não vai dizer nada?
- Sobre a Julia e você?
- É, sobre o que aconteceu...
- Eu não.
- Eu quero que diga!
- Tá bem... Eu não to chateada, se é o que você quer saber, nem estou me sentindo traída, porque você é livre pra se envolver com quem você quiser, afinal, eu já disse não umas 5 vezes pro seu pedido de namoro. Sei que mesmo que namorasse comigo de “papel passado”, isso teria acontecido, por isso sempre defendi a liberdade, inclusive do amor. Eu confesso que estou um pouco insegura, pois achei que por ser suficiente para mim, eu também seria pra você, mas se não é assim, deixa eu fingir e rir, lá lá lá lá.

Ele abraçou e beijou Sofia. Naquele momento, ela era mais do que suficiente, ela era extraordinariamente perfeita. E ele a amou, de muitas maneiras possíveis.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Julia e Sofia


Naquela madrugada, eles conversaram muito. 
Julia contou a Levi como era seu curso, disse estar muito feliz em estudar política, direito e economia. Mas sabia o quanto a parte da sociologia e história era importantes. Ela disse que estava com vontade de fazer francês também, já que ele fazia. 
Levi disse que tinha aprendido muita coisa, que esperava que ela também descobrisse, na hora certa. Disse que tinha conhecido pessoas espetaculares, e que isso tinha sido o mais importante.
- E a Sofia? Você não vai me contar sobre ela?
- Como? Você a conhece?
- Não, pessoalmente. O Samuel que costuma falar que você está com ela.
- O que o Samuel tem haver com minha vida... - Levi pensou alto.
- Nada, oras. É só o fato de ele ser seu irmão e responder com quem você anda quanto eu pergunto... 
- Ah... Você pergunta por mim Julia?
- Claro, apesar de você não perguntar por mim, porque eu também perguntei isso ao Samuel...
O clima ficou mais denso. Levi ficou desconcertado, em silêncio. Ele não perguntava por ela porque não sabia como perguntar, Samuel sempre tira conclusões precipitadas de suas falas.
- Tudo bem, eu não te culpo. Sei que estraguei nossas tardes no tapete - ela sorriu envergonhada -. Eu sinto saudade de você Levi...
- Eu também Julia. Sabe o que é você não puder mais escutar Engenheiros porque te lembra uma pessoa?!
Ele deu uma gargalhada, mas ela ficou séria. 
- Você não queria lembrar-se de mim? 
- Claro que queria. Mas só da Julia que deitava comigo, cantava comigo, brigava comigo, da Julia cheia de si, como diria o Samuel. Não da Julia nervosa, tensa, que só quer saber de termodinâmica. Eu queria essa Julia, que olha nos meus olhos agora, que tem cheiro de flor quando sorri. 
- Levi... eu quero te dizer uma coisa. 
Ela se aproximou dele e quando estava próximo de beijá-lo, disse baixinho, encostando-se aos lábios dele: - Se você sair correndo depois disso, eu nunca mais olho na sua cara.
Eles sorriram. E ficaram juntos até o nascer do sol. Ele sempre teve vontade de agarrá-la como ela fez com ele. Isso era o melhor de Julia, ela parecia com ele de uma maneira bem melhorada. Eles ficaram abraçados, trocaram carícias, risadas, histórias, canções! 3x4 foi a música que escolheram pra memorizar aquele momento, ela tocou uma, duas, três vezes! E juntos, eles cantaram: “Feitos um pro outro, feitos pra durar. Uma luz que não produz sombra... Somos o que há de melhor. Somos o que dá prá fazer. O que não dá pra evitar, E não se pode esconder”.

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