sábado, 25 de fevereiro de 2012

Júlia como nunca se viu



Quando Levi saiu do banho perguntou quem era. Sofia falou tranquilamente que era Julia e que ela havia pedido que ele ligasse. Ele ficou sem jeito. Essa história com a Julia estava deixando-o aflito e com sensação de mãos atadas. Sofia disse que o mais correto seria ligar para ela e tentar explicar pra ela o que passava na cabeça dele, para que assim tentasse entender a dela. 
- Como é que eu explico pra alguém o que eu tô pensando se nem eu consigo entender tudo isso? 
- Levi, você não pode deixar ela sem entender o que vocês viveram... 
- Você quer que eu diga o que pra ela, Sofia? 
- Quero que diga o que ela merece escutar. Ela não é sua amiga? Você não tem respeito e um carinho por ela? Então porque não tentar explicar pra ela? 
- Eu não sei o que dizer a ela, eu não sei o que penso sobre o que vivemos, sobre como isso afeta você, sobre como isso afeta tudo... 
- Mas você tem que saber Levi, porque ela tem que saber também. Se foi algo só de uma noite, se vai ser um relacionamento aberto, se você quer ter algo sério... Não pode é deixá-la esperando... 
- Sofia, eu não entendo como você consegue ter tanto sangue frio de falar disso como se não te envolvesse... 
- E não me envolve. Essa parte da história é só entre vocês, eu estou de coadjuvante, se é que estou. E eu não tenho sangue frio, eu só quero que você preserve o cara por quem eu me apaixonei aí dentro, um cara íntegro e sincero e não um cara que se acomoda, por viver em relacionamentos abertos. 
Ela se levantou da cama. Ele foi atrás dela, não estava entendendo se isso tinha se tornado uma discussão. Sofia disse que não, que só estava atrasada para a aula. Pediu que ele deixasse a chave com o porteiro e saiu. Levi ficou pensando, deitado na cama, ainda enrolado na toalha. Ele não fazia ideia de como lidar com as coisas que vinham acontecendo. 
De algumas coisas ele tinha certeza: Gostava de Sofia e não havia pessoa mais certa para ele, no momento. Era incrível como ela conseguia ser justa até quando corria riscos de se machucar, ele queria ser como ela nessas situações. Mas não era. 
E esse era o maior problema. Ele sabia que era egoísta demais pra querer sair perdendo. Isso não se tratava de um jogo de sedução, mas de algo realmente importante. De um lado, ele tinha Sofia, alguém incrível que conheceu e que não cogitava nem por um minuto perder, do outro Julia, a menina que mexia com ele de uma forma tão inexplicavelmente estranha que ele não entendia quando estava longe dela. Quando estava ao lado dela era como se nada no mundo pudesse ser diferente, eles se completavam nas mais diversas formas possíveis, ele gostava de tudo nela, até das suas ansiedades e ele não queria ter que se afastar dela, muito menos feri-la. 
Resolveu que não iria à aula e que iria tentar entender as coisas com Julia em um almoço, talvez. Ligou pra ela, mas o celular dela chamou varias vezes e não atendeu então resolveu ligar para o número que ela havia ligado. Quem atendeu foi Beatriz, ele explicou que era um amigo (?) de Julia e que estava tentando falar com ela, mas ela não atendia o celular. A garota explicou que ela havia deixado o celular em casa, por engano, mas que iria procurá-la e ligaria de volta. 
Os 20 minutos que passaram pareceram uma eternidade para Levi. Ele se vestiu, arrumou a cama e ficou deitado esperando o toque de Beatriz. Quando o telefone tocou a menina foi se desculpando pela demora e disse que quase não achava Julia que estava lá no fundo da biblioteca e blá blá blá. Ele não escutou mais nada até ouvir a voz de Julia, assustada, surpresa, ansiosa ou triste, ele não conseguiu distinguir. 
- Julia? 
- Oi Levi, desculpa ter te ligado... 
- Não, você não tem que se desculpar por nada, se alguém tem quem se desculpar por alguma coisa aqui, deve ser eu... (Ele ainda estava confuso demais pra ter certeza de alguma coisa) 
(silêncio na linha) 
- Julia, você tá ocupada agora? 
- Não, eu deveria estar na aula, mas... 
- Eu também não fui à aula, eu queria falar contigo, pode ser? 
- Agora? 
- É a gente podia comer no restaurante que é aí perto, pode ser pra você? 
- Pode sim... 
- Tô saindo daqui. Devo estar chegando em 20 minutos. 
E cada um arrumou o que tinha de ser arrumado e se dirigiu ao restaurante próximo ao campus em que Julia estudava. Quando Levi chegou avistou ela sentada em uma mesa de costas para a porta. Ele ficou nervoso ao se aproximar, fez um barulhinho pra ser notado e a cumprimentou, com um abraço desajeitado. Ele se sentou e ficou calado, olhando para ela. Julia estava envergonhada, mas não gostava do silêncio que lhe feria e começou a falar: 
- Queria me desculpar outra vez, por ter te ligado mais cedo... 
- Julia, já disse que não precisa disso. É por causa dessa situação que estamos aqui, almoçando. Você já pediu? 
Fizeram o pedido do almoço e quando o garçom se afastou da mesa eles retomaram a conversa. 
- Eu não queria que essa conversa fosse forçada Levi. 
- Ela não foi forçada por você Julia, mas por uma séries de acontecimentos que não podem nem querem passar despercebidos. 
- Você se arrepende Levi? De domingo? 
- De ter ficado com você? Claro que não! Mas não posso mentir pra você, eu estou muito confuso Julia. E é por isso que estou aqui, pra que nós possamos entender as coisas juntos. 
Levi então começou a falar de como se sentiu de domingo até aquela terça-feira. Contou tudo, prestando atenção em cada expressão de Julia. Disse que gostou bastante de ficar com ela, que já tinha imaginado aquilo muitas vezes, enquanto estavam deitados no tapete da casa dela, disse que gostava e admirava ela, porque era uma menina bem madura, que não reprimia suas vontades, seus sentimentos. Mas disse também que, desde toda essa vontade que tinha de beijá-la nas tardes que a visitava até os dias de hoje muita coisa tinha acontecido e uma delas tinha sido Sofia. Ele foi logo falando que não a namorava, antes que uma lágrima conseguisse escorrer do olho de Julia, mas disse que isso não era o que movia o relacionamento deles. 
De forma sucinta, tentou explicar como funcionava esse lance de relacionamento aberto que eles tinham, disse que eles ficavam junto, saiam, conversavam e tinham toda uma rotina de namorados, mas não tinham o nome. Preferiu omitir o fato de isso não acontecer por conta da negação de Sofia, mas disse que ela preferia que ele fosse livre, porque ela tinha na liberdade a maior expressão do amor. 
Julia ficou confusa e cansada daquele discurso um tanto quanto utópico. Como podia amar e aguentar que o seu amor amasse outra pessoa, seria possível um só coração amar duas pessoas? Mas tudo isso ficou em seu pensamento. Calada, escutou e tentou entender aonde Levi queria chegar com tudo isso. 
Levi continuou dizendo que tinha contado a Sofia sobre o que aconteceu domingo, não por arrependimento, mas por respeito. Ele disse que ela lidou de uma forma que ele não esperava e disse que ela mais do que nunca o deixou a vontade para levar a vida com Julia, se assim ele quisesse. Contudo, ele disse que não sabia o que queria. Não sabia porque não tinha construído essa parte da história com Julia e não queria construir sozinho e era por isso que estava ali, para entender, junto com ela, o que eles tinham e como eles pretendiam viver daqui pra frente. 
Julia foi bem séria e calma ao falar que infelizmente não era tão madura quanto Sofia parecia ser. Que para ela gostar ainda significava confiar, ser cúmplice, ser fiel. Talvez ela não entendesse a “forma livre” de Sofia amar, mas ela ainda acreditava que não era possível amar alguém e ainda se deixar ferir. Quem sabe ela ainda não tinha maturidade suficiente para aprender a deixar o outro livre para viver e seguir a diante com sua vida, ela queria alguém que passasse uma certeza que ela não encontrava em si, alguém que se permitisse resistir as tentações e às coisas que aparecem quando se estar junto de alguém. Com certeza ela não era nem metade da pessoa que Sofia era ou que Levi procurava, sem dúvida nenhuma. Pediu que ele não a comparasse com Sofia, porque desse jeito eles não iriam construir nada. Ao finalizar sua fala ela estava levemente irritada. 
Levi tentou calmamente explicar que não a comparava com Sofia, que elas eram distintas em muita coisa, apesar de saber que elas também se pareciam em várias outras. Ele disse que só contou tudo isso para que ela entendesse como as coisas aconteciam entre eles, como uma forma de ajudar ela a tomar uma decisão... 
Ela disse que não queria tomar nenhuma decisão. Ela questionou o método de “construção do junto” que ele usava e o acusou de querer se livrar do peso da decisão empurrando isso para ela. Disse que não acredita em um relacionamento aberto, ou sei lá como ele chamava aquilo, disse que não acreditava em muita coisa e uma dessas coisas era que ele gostava dela. 
Julia se levantou e saiu antes mesmo do pedido chegar. Com os olhos cheios de lágrimas, mas sem deixar nenhuma delas escorrer, saiu apressada com um só veredito desse almoço: não era o rosto de Levi, nem suas palavras que ela queria encontrar tão cedo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pequenas reflexões sobre o verbo amar.

Há alguns dias eu assisti à um filme que se chama Os Homens que não Amavam as Mulheres. Eu fiquei pensando sobre a categoria amar. O amor é um tanto quanto "relativo" para se fazer uma afirmação dessas... 

O filme é baseado no primeiro volume da Trilogia Millenium, escrita por Stieg Larsson, que se tornou fenômeno mundial de vendas. Durante o filme, ficou claro, o desamor às mulheres, apesar de não ter sido uma mulher que incentivou essa aversão à elas... 

Mas o que me faz ter inquietações é essa afirmação um tanto quanto forte sobre o amor.

O amor é tão diferente para cada um que sente. Dependendo de quem é "alvo do amor", ele se adapta rapidamente e de uma maneira completamente diferente.
Acho que não existe uma receita para o amor, nem para muitas outras coisas. O amor é o sentimento abstrato que mais se faz presente de forma concreta nas nossas vidas. Uns dizem que matam por amor, outros que são capazes de morrer por ele. Mas o amor, é sentimento ou é de carne e osso? 

Acho que é mais difícil falar de amor porque não existe uma forma concreta de explicá-lo ou exemplificá-lo. Existe o amor dos apaixonados, dos solitários, das mães, dos amigos, dos cristãos, dos medrosos e até mesmo dos irritados. 

No fundo, acho que o amor é isso, é o não saber de cor, é o duvidar, o questionar, o inquietar. 

Se for assim, eu amo amar. 

"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?
Fernando Pessoa

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